Entrevista com Adrian Huq

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[versión en Español]

[Transcrição da Entrevista]

 

Em nosso quinto episódio da série Voices of Local Leaders, entrevistamos Adrian Huq, um jovem ativista ambiental com fortes raízes em New Haven. Enquanto estudante de ensino médio na região, Adrian já se preocupava profundamente com o meio ambiente e fazia de tudo para melhorar os esforços de reciclagem e reduzir o desperdício de alimentos em sua escola. No ensino médio, na escola Metropolitan Business Academy, Adrian teve a oportunidade de se envolver com sua comunidade escolar sobre questões ambientais e começou a organizar greves do clima lideradas por jovens e outras iniciativas, que o levaram a co-fundar a equipe de ação juvenil do movimento 'New Haven Climate Movement' e coordenar o estágio juvenil do 'Climate Health Education Project'. Com base em evidências científicas sólidas sobre o impacto das ações humanas no clima global, o ativismo de Adrian cria consciência sobre essas questões e pressiona comunidades e legisladores locais a fazerem planos para uma ampla educação climática em toda a cidade e possíveis soluções para mitigar os impactos humanos. Adrian inspira outros jovens estudantes a agirem e definitivamente está ajudando New Haven a se mover na direção ambientalmente correta!



Transcrição da Entrevista

“Olá, meu nome é Adrian Huq e sou o cofundador da equipe de ação juvenil do'New Haven Climate Movement.' Eu tive uma trajetória interessante até me tornar um organizador [comunitário]. Durante o ensino médio, eu coletava frutas de outras pessoas para levar para casa, porque me importo muito com o desperdício de comida. Eu pegava pedaços de papel de outras pessoas e outras coisas para levar para casa para reciclar, já que as lixeiras de reciclagem em nossa escola não são funcionais. Depois, no colégio, eu também levei isso adiante. Eu fiz a mesma coisa, mas coletava muitos outros recicláveis. Meu armário estava cheio de plástico de outras pessoas! Então, eu sempre tive uma mentalidade de conservar materiais e encorajar os outros a não desperdiçarem. Sempre houve aquela chama em mim para cuidar do meio ambiente e sentir aquela responsabilidade de ter outros cuidando da Terra também. Há uma organização sem fins lucrativos em New Haven chamada 'New Haven / León Sister City Project,' e eles têm várias iniciativas como parte de seus esforços para combater as mudanças climáticas na área de New Haven. Esse é um de seus objetivos, e também trabalhar em León (Nicarágua) por justiça social e contra as mudanças climáticas. Então, eles têm um monte de iniciativas diferentes, e uma delas é o projeto 'Elm Energy Efficiency Project.' Em 2018, eles queriam realizar um programa piloto em uma escola de ensino médio de New Haven, onde um dos alunos do ensino médio educaria sua própria comunidade escolar sobre eficiência energética e venderia produtos com eficiência energética. Então, eu me inscrevi [para o programa] e fui contratado para me tornar essa pessoa na minha comunidade escolar, que era a escola Metropolitan Business Academy, em New Haven. Eu passei o ano letivo realizando campanhas em torno da eficiência energética e educando minha escola e meus colegas sobre isso. O ‘New Haven Climate Movement’ é uma organização que também foi iniciada pelo projeto ‘New Haven / León Sister City Project.’ Como parte do meu trabalho com o projeto ‘Elm Energy Efficiency Project,’ fui apresentado ao [‘New Haven Climate Movement’] na primavera de 2019. Fui convidado a organizar uma greve do clima liderada por jovens para eles, já que isso foi quando o movimento global 'Fridays for Future' estava realmente decolando, e 24 de maio foi um dos dias de greve global. Depois de ajudar a organizar aquela primeira greve, decidimos que seria ótimo continuar a envolver os jovens no [New Haven] Climate Movement, já que eram apenas adultos naquela época. Então, de lá eu cofundei a sua equipe de ação juvenil, e nós crescemos muito desde 2019 e reunimos um grupo realmente ótimo de estudantes ativistas do ensino médio e universitário, que organizam todas as greves de ação e eventos para o ‘New Haven Climate Movement’.”

[Science Yourself] Como você se tem se envolvido com a educação climática em New Haven?

[Adrian Huq] Neste verão [2020], criamos nossa proposta de escolas de justiça climática. Dentro desta proposta, as principais demandas são 30 horas de educação interdisciplinar sobre o clima nas escolas de ensino fundamental e médio de New Haven. Outras demandas incluem aprendizagem baseada em projetos, segundas-feiras sem carne no refeitório, tornar os edifícios escolares mais eficientes em termos de energia e tornar o transporte escolar mais verde. Portanto, esperamos ver cinco escolas-piloto como escolas de segundo grau públicas de New Haven e, então, acredito que até 2023, queremos que todas as escolas de segundo grau de New Haven sejam escolas de justiça climática. Algo que propusemos, com nossa proposta de escolas de justiça climática, para ajudar com todos os novos projetos, eventos, atividades e currículo que essas escolas deverão ter, é através do pagamento de estipêndio para dois líderes estudantis e um professor coordenador por escola participante. Queremos que o professor coordenador e os estudantes estagiários trabalhem juntos para colaborar em diferentes eventos e atividades.

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Adrian em Fair Haven Farmers Market (verão de 2019) incitando a [então] prefeita de New Haven e vereadores a declarar emergência climática na cidade

Consideramos importante fornecer a professores e alunos um pouco mais de dinheiro pelo trabalho extra que estão fazendo, além das expectativas típicas como aluno ou professor. Apresentamos isso ao Conselho de Educação de New Haven em julho de 2020. Temos trabalhado com o Conselho de Educação nos últimos meses com diferentes pessoas-chave, como a Assistente da Superintendente e o Supervisor de Ciência do Distrito, para tentar implementar esta proposta. Ainda não foi aprovada, mas estamos trabalhando com várias pessoas diferentes dentro do distrito para ver como este programa seria implementado e como poderia ser financiado. Estamos no bom caminho e esperamos ver isso implementado em breve.

“Não se subestime se você é um adolescente ou mais jovem, porque os jovens têm muito poder e podemos usar isso a nosso favor!”

[Science Yourself] O que te motiva a continuar tentando convencer mais pessoas a se juntarem a você?

[Adrian Huq] Eu acho que estou motivado para continuar lutando porque aqui nos Estados Unidos tendemos a ser muito míopes quando se trata de crise. E na maioria das vezes não consideramos o sofrimento das comunidades fora do nosso país. Eu acho que é muito importante defender os países que estão sendo afetados pelas mudanças climáticas agora, mesmo que eles não tenham criado o problema. Muitas pessoas estão perdendo seus meios de subsistência, especialmente aquelas que trabalham na agricultura para viver. As pessoas estão realmente sendo deslocadas à força e se mudando para as cidades, deixando sua cultura e suas terras ancestrais. Até mesmo o país de onde minha família é (Bangladesh), eles estão realmente sofrendo o impacto de grandes enchentes e secas e perdas de safras. Estou motivado para fazer isso porque precisamos dar voz aos países que estão sendo afetados em primeiro lugar e da pior forma. E os países do primeiro mundo não estão realmente fazendo nada a respeito, embora sejam os que mais contribuem para este problema. E estou motivado para lutar pela educação climática porque sou apaixonado pela juventude, sou apaixonado por educação. E a educação climática é uma das coisas que me colocou onde estou hoje, em meu lugar como ativista ambiental desde o ensino médio e depois durante o colégio. Então, eu acho que é muito importante educar os jovens sobre o mundo que eles estão herdando e o mundo ao seu redor agora!

“Eu reconheço que existem muitos problemas atuais e urgentes acontecendo agora. Mas também é verdade que as mudanças climáticas TAMBÉM estão acontecendo agora”

[Science Yourself] Quais são alguns dos aspectos ou fatos sobre as mudanças climáticas que as pessoas geralmente desconhecem?

[Adrian Huq] Eu acho que um aspecto sobre as mudanças climáticas que outras pessoas normalmente não estão cientes ou não sabem muito é que as mudanças climáticas não se referem apenas ao aquecimento global. Muitas pessoas ainda pensam que é isso que é a mudança climática, que esse é todo o problema: verões mais quentes, invernos menos frios. Mas a verdade é que a mudança climática não é apenas o aquecimento do planeta, mas também todas as consequências sociais, econômicas e ambientais que vêm dos desastres que surgem quando ultrapassamos esses limites planetárias. Temos que lembrar que nosso planeta é um sistema muito forte e resiliente, mas existem limites que estamos constantemente lutando contra. Eu vi uma pessoa considerar a mudança climática como se nosso planeta estivesse com febre. E, assim como quando você está doente, outras partes do seu corpo também são afetadas por causa dessa doença. Da mesma maneira, o nosso planeta teria uma febre de 1 grau que impacta muitos outros aspectos do nosso planeta e desequilibra esse delicado equilíbrio. Mesmo que realmente não pareça muito. Em nossa casa, se aumentarmos 1 grau, pode não haver uma grande diferença. Mas quando estamos olhando para o planeta como um todo, isso significa o colapso do gelo marinho, significa que o nível do mar está subindo, significa mais desastres naturais.

 

[Science Yourself] Há muita desinformação e negação da ciência sobre as mudanças climáticas. Qual é uma desinformação comum que você encontra ao interagir com a comunidade, educadores e legisladores?

[Adrian Huq] Uma desinformação comum que eu encontro quando se trata de mudança climática é que ela está em um futuro distante e que existem desafios mais atuais e urgentes nos quais devemos nos concentrar primeiro. Em primeiro lugar, eu definitivamente gostaria de reconhecer que existem muitos problemas atuais e urgentes acontecendo agora. Mas também é verdade que as mudanças climáticas TAMBÉM estão acontecendo agora. E o que podemos fazer para reduzir as emissões drasticamente até 2030 é, na verdade, reduzir os danos para os inevitáveis ciclos de feedback que veremos que levarão a um desastre climático. É também verdade que pelo menos alguém tem que pensar a longo prazo, em vez de apenas lidar com os problemas que enfrentamos agora. Algumas barreiras que podem surgir por meio dos educadores é que eles podem não pensar que as mudanças climáticas estão relacionadas ao assunto que estão ensinando. No entanto, mudanças climáticas realmente cobrem uma grande variedade de tópicos que não são apenas científicos, por exemplo, estudos sociais e história. Para legisladores, há muita evasão sobre a questão das mudanças climáticas por razões monetárias (dizendo: ‘Não temos dinheiro para implementar essas soluções’) ou apenas porque sentem que há questões mais urgentes que afetam seus constituintes. E também, o fato de que mudanças climáticas é um problema de longo prazo e um desafio de adaptação. Isso permite que os políticos escapem impunes de não abordar o assunto porque seus mandatos são normalmente de 2 ou 4 anos, então eles podem facilmente adiar as coisas e dizer: ‘Isso é para um político daqui a 20 anos; Eu não preciso fazer isso.’

“Encontrar as pessoas onde elas estejam é especialmente importante no movimento ambientalista. Tudo bem se as pessoas não estão cientes das mudanças climáticas, ou ainda pensam que se trata apenas do aquecimento global, porque podemos ajudar a educá-las. E está tudo bem!”

[Science Yourself] Quais são as coisas mais importantes que você aprendeu em defesa de direitos e gostaria de aconselhar a alguém que está pensando em se tornar um ativista ambiental?

[Adrian Huq] Ao longo da minha experiência com organização [de defesa de direitos], aprendi muitas lições diferentes. Uma delas é justamente a importância de fazer crescer o movimento por meio de abordagens diversas. Sempre há um debate quando se trata de ambientalismo ‘Vamos pelo caminho da política ou pelo caminho da educação pública?’ Eu acho que é importante fazer uma mistura de ambos. Obviamente, a política é onde você pode realizar coisas mais concretas. Mas, para complementar isso, você também precisa tentar educar o público. Então, no movimento ‘New Haven Climate Movement’ fazemos ambas as coisas. Fazemos ações públicas e nossas ações para conscientizar os moradores e integrá-los ao nosso movimento.

Outra coisa que aprendi é que os jovens em geral são capazes de assumir tarefas da mesma forma que os adultos. E às vezes é necessário que os jovens assumam a responsabilidade por problemas, como as mudanças climáticas, porque alguns adultos simplesmente não estão agindo. Eu diria: ‘Não se subestime se você é um adolescente ou mais jovem, porque os jovens têm muito poder e podemos usar isso a nosso favor!’ Especialmente quando se trata de questões como mudanças climáticas, oferecemos um apelo muito forte e emocional sobre como esse é o nosso futuro. Então, definitivamente, sua voz é importante quando jovem.

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Adrian se dirigindo a uma multidão principalmente de jovens na greve do clima do New Haven Climate Movement em 20 de setembro de 2019 no centro de New Haven

Além disso, aprendi a encontrar pessoas onde elas estejam. Se alguém não sabe reciclar, não vou usar isso contra eles, porque obviamente existem diferentes barreiras que vêm dessa atividade. Por exemplo, sua vizinhança pode não aceitar recicláveis e eles não sabem realmente o que vai em cada lixeira. Então, definitivamente encontrar as pessoas onde elas estejam, é especialmente importante no movimento ambientalista. Tudo bem se as pessoas não estão cientes das mudanças climáticas, ou ainda pensam que se trata apenas do aquecimento global, porque podemos ajudar a educá-las. E está tudo bem!


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