Entrevista com Gammy Moses
Em nosso terceiro episódio da série Voices of Local Leaders, entrevistamos Gammy Moses, um educador ambiental que atualmente trabalha como coordenador de dia prolongado na escola Elm City Montessori. Gammy tem conectado jovens estudantes e suas famílias a espaços verdes abertos e acessíveis ao redor de New Haven nos últimos 16 anos. Através de referências à sua infância na Ilha de Dominica, passando o máximo de tempo ao ar livre e seguindo os passos musicais de seu pai, podemos facilmente compreender e admirar sua paixão por educação ambiental e ao ar livre. Usando aulas cativantes que combinam artes, ritmo e movimentos com a exploração da natureza, Gammy envolve nossos jovens em aprender sobre ciência e agir para proteger nosso meio ambiente. Não há absolutamente nenhuma dúvida de que Gammy é uma inspiração de como devemos trabalhar juntos e ensinar nossas crianças!
Transcrição da Entrevista
"Meu nome é Gamaliel Moses. Eles me chamam de Gammy. Eu sou originalmente de uma pequena ilha do Caribe Oriental chamada Dominica, nas Índias Ocidentais. Mudei-me para os EUA em 2005, isso foi há cerca de 16 anos. E logo depois de me mudar para cá, me envolvi com Public Allies e fui alocado em Solar Youth. Essa foi a minha introdução à educação ambiental e ao trabalho de desenvolvimento juvenil. Eu me tornei um educador lá por alguns anos e então, eventualmente, fiz a transição para ser o Coordenador do Programa e Diretor de Acampamento lá. Fiquei em Solar Youth por cerca de 12 anos, e durante esse tempo, sendo músico e percussionista, desenvolvi muito currículo em torno de canções, usando ritmos e cantos para ensinar sobre o meio ambiente e ciências. E encontrei um nicho bom para ser professor usando ritmo, movimentos e música. Depois disso, fui conectado ao New Haven Land Trust [agora parte da organização fundida ‘Gather New Haven’]. Comecei como um organizador comunitário porque estava muito envolvido em fazer muitos trabalhos comunitários. Eu trabalhei com o [New Haven] Land Trust conectando as pessoas às hortas comunitárias e fazendo programas com crianças dentro das hortas comunitárias. Logo depois disso, fiz a transição para o trabalho de educação ambiental. Nós transportávamos crianças de escolas diferentes e eu dava aulas de educação ambiental dentro da reserva natural, [como] a Reserva Natural Quinnipiac [Meadows Eugene B. Fargeorge] e a Reserva Natural Long Wharf. Eu fiz a transição da função para a escola Wexler Grant [Community School], onde fiz alguns trabalhos de mentoria e, depois de dois anos, acabei na escola Elm City Montessori. Aqui comecei a fazer o programa pós-escolar e depois passei a trabalhar durante o dia fazendo a programação escolar. E então, o que aconteceu foi que a pandemia criou um nicho onde fui capaz de me concentrar mais em fazer programação ao ar livre."
“Eu sinto que é um privilégio ser capaz de facilitar a educação das crianças ao ar livre!“
[Science Yourself] Por que é importante para você ser um facilitador que leva as crianças para o lado de fora da escola e em contato com a natureza?
[Gammy Moses] Eu cresci em uma ilha. Imagine, antes de ir para a escola, eu estava nadando na praia. Eu tomava banho, ia para a escola, fazia a lição de casa e voltava para a praia. Eu escalava montanhas com meu pai, subia nas montanhas e encostas para encontrar toras para fazer tambores. Às vezes eu nem ia para casa almoçar, só ia para a floresta e colhia mangas. Tudo isso para dizer que eu cresci fora de casa e passava o tempo fora. Estou feliz em trazer essa sensaçao de alegria para os jovens e espalhar isso para eles. Porque eu acho isso, ter essa experiência e saber o quão valiosa ela foi para mim. Isso motiva quem eu sou e eu gostaria de trazer isso para eles. Sabemos que os desafios que enfrentamos hoje com muitos dos jovens não passando muito tempo ao ar livre é porque temos toda a tecnologia e videogames e assim por diante. Além disso, existem preocupações de segurança em torno da violência. Então, eu sinto que é um privilégio ser capaz de facilitar a educação das crianças ao ar livre!
[Science Yourself] Como a pandemia de COVID-19 impactou as suas aulas ao ar livre?
[Gammy Moses] [Na escola Elm City Montessori], fomos uma das escolas abertas no final de setembro. Antes do feriado de Ação de Graças, decidimos fechar porque sabíamos o que estava por vir e o número [de casos de COVID-19] estava aumentando. Então, fechamos e, de uma semana para outra, basicamente criamos esse novo programa que permitiria às crianças voltar à escola por três horas a cada sessão fazendo educação ao ar livre. O que eu fiz foi: peguei uma lição de educação ambiental e combinei com brincadeiras, ficar ao ar livre, passar muito tempo na mata. E também caminhadas, brincar ao ar livre, movimento e passar o tempo no parque West Rock.
“Alguns pais e mães expressaram que seus filhos agora voltam para casa felizes e cheios de alegria”
[Science Yourself] Que tipo de mudanças você notou nas crianças que voltaram após o ‘lockdown’ para ir às aulas ao ar livre?
[Gammy Moses] Alguns pais e mães expressaram que sentiram que seus filhos agora são eles mesmos porque estão no programa. Eles voltam para casa felizes e cheios de alegria. Porque eles ficaram em casa por um tempo, apenas olhando para a tela e usando seus computadores. E então nós oferecemos essa oportunidade, e eles vieram, e seus pais disseram: “Sabe, eles parecem que estão de volta a si mesmos agora, porque estão mais expressivos, cheios de alegria”. E isso mostra o valor que não apenas a programação ao ar livre, mas os programas em si, onde as crianças ficam perto umas das outras, têm. Por exemplo, se uma criança vem ao meu programa e se diverte. Essa energia vai transcender quando ele voltar para casa. Se eles têm dever de casa ou qualquer outra coisa para fazer, eles estão de bom humor para isso. E eles têm algo para esperar no dia seguinte. Esteja você fazendo programas pós-escolares ou escolares, a experiência que isso proporciona às crianças, algo pelo qual ansiar, algo para se alegrar. Isso, por si só, afeta todo o humor deles.
[Science Yourself] Qual é um mito comum ou equívoco sobre a educação ao ar livre que você encontra em seu trabalho? E como você contorna esse desafio?
[Gammy Moses] Temos um conceito de que a floresta é um lugar muito perigoso para se estar. E há animais selvagens lá que podem nos machucar. Isso é verdade, mas é mais exagerado. Então, há muitas pessoas que podem não querer mandar seus filhos para a floresta porque existem aqueles perigos lá fora. A maneira que eu trabalho em torno de desafios como este é construir um relacionamento com os pais, deixando-os saber que seu filho está seguro. Lembro-me de uma vez, as pessoas viam raposas, mas pensavam que eram coiotes, até que vi por mim mesma. Havia raposas perambulando e não coiotes. E eu tive que explicar isso para alguns pais "Não estou dizendo que não existam coiotes por aqui, mas o que temos visto são raposas!" Então, isso é um equívoco. Outro equívoco, como você mencionou, é o frio. Você não quer ficar ao ar livre no frio porque não quer ficar doente. "Você vai ficar doente porque está brincando do lado de fora no frio." Você tem que argumentar e educar as pessoas e deixá-las saber que fora de casa, ao ar livre é realmente melhor porque você tem ar fresco e é mais ativo. O principal de estar ao ar livre é vestir-se adequadamente: ter as roupas corretas, ter as camadas [de roupa] certas, ter certeza de que tem um bom gorro para manter o calor (porque perdemos muito calor pela nossa cabeça), ter certeza de que você tem luvas de mitenes ao invés de luvas regulares (porque o calor do corpo é melhor [conservado] nas luvas de mitenes e é mais fácil para as crianças vestirem), ter certeza de que a sua jaqueta está toda fechada (porque você tem que aquecer o peito, então [o calor] se espalha por o resto do corpo). Eu ensino isso para crianças e ensino para pais. Como ensinei isso às crianças antes, eu fiz músicas sobre isso: "Esta é a música O QUE ESTÁ, o que está na minha cabeça? O que está no meu peito? O que está nas minhas costas?” Ensine-os a se vestir e verifique que eles têm as roupas corretas!
“A inteligência musical sempre foi importante, mas então você coloca o ritmo e adiciona movimentos, e isso é simplesmente enorme!”
[Science Yourself] Você mencionou como usa o ritmo, os movimentos e as músicas nas suas aulas. Por que isso é importante para você?
[Gammy Moses] Meu pai era um ativista cultural; ele era um percussionista. Então, eu cresci tocando percussão, eu costumava escalar montanhas com ele para pegar toras para construir tambores e outras coisas. O que eu acho é que a inteligência musical é muito importante, desde o momento em que você nasce. Quando eles nos ensinam o ABC, eles não dizem para nós, nós cantamos. Eles dizem: “Coloque em uma música e você aprenderá.” Então, a inteligência musical sempre foi importante, mas então você coloca o ritmo e adiciona movimentos, e isso é simplesmente enorme! Tenho músicas que tratam de tópicos pequenos, músicas para tópicos grandes ... estamos falando sobre coisas como biomagnificação, eu tenho músicas sobre isso. É uma ferramenta poderosa porque prende a atenção das crianças. Elas ouvem e começam a se mover. E então, eles já estão fazendo as ações e assim por diante.
[Science Yourself] Qual seria o seu conselho para alguém que esteja conectado com a natureza e está pensando seriamente em se tornar um educador ambiental?
[Gammy Moses] Meu conselho seria tentar ser o mais consistente possível no trabalho. Essa é a única maneira de ver a mudança com consistência. Tente ter a mente aberta, flexível e adaptável. Porque, como qualquer outra coisa, se você está ensinando sobre o meio ambiente, o meio ambiente muda muito, a atitude das pessoas em relação ao meio ambiente muda muito. Portanto, seja flexível e adaptável. E conecte-se com outras pessoas, com outros grupos para aprender. Pessoalmente, tendo vindo de uma ilha tropical, tive que aprender sobre a flora e a fauna daqui porque não conhecia! Conecte-se e saiba o que está ao seu redor e use os recursos disponíveis. Em termos de relacionamento entre organizações, devemos buscar a simbiose, onde todos se beneficiem. Muitas vezes, as organizações podem não querer se envolver [umas com as outras] porque isso não é tão benéfico para elas quanto para a outra organização. Todos nós sabemos que união é força. Nós sabemos disso, mas na prática todos estão em seu mundo porque muitas vezes as pessoas estão competindo por fundos diferentes. Mas tem havido alguns belos exemplos de colaborações em New Haven em torno disso. Você tem Rock-To-Rock. Existem outros exemplos, mas acho que o desafio é que, em vez de ver as pessoas como concorrentes, nos vejamos como aliados e trabalhemos juntos!